5.3.14

Ar-condicionado: o frio encaixotado

Quanto mais as temperaturas aumentam em todo o planeta, mais se percebe a importância do aparelho que o americano Willis Carrier inventou em 1902


Após a Segunda Guerra Mundial, o aparelho foi adotado em massa e arquitetos passaram a projetar prédios já planejando o seu uso

Por Mauro Trindade

Há estátuas para tudo que é tipo de gente. Desde carniceiros e punguistas que terminaram conhecidos como heróis até homens – e algumas mulheres – cujo único grande feito na vida foi ter nascido em uma família abastada o sufi ciente para pagar o bronze e o espaço público. Bustos e nulidades equestres enfeiam praças, enquanto muita gente que criou obras-primas para a humanidade permanece nas sombras da história. Um desses esquecidos chama-se Willis Haviland Carrier, engenheiro americano nascido em 26 de novembro de 1876 e que refresca a vida de milhões e milhões de pessoas. Literalmente. Carrier foi o inventor do ar-condicionado, essa proeza tecnológica que permite transformar o mais insuportável dos verões num jardim das delícias terrenas.

O ar-condicionado não foi inventado para humanos, mas para a indústria. Diversas fábricas tinham problemas com seus produtos, porque umidade de mais ou de menos alterava os padrões da qualidade durante a produção, como era o caso da indústria do tabaco, têxtil e farmacêutica, entre outras. No tórrido verão de 1902, em Nova York, apenas um ano após sua formatura, Carrier foi procurado por uma gráfica do Brooklyn, em Nova York, que penava com o calor e a umidade que alteravam o tamanho do papel e borravam a impressão. O próprio Carrier contou que, ao voltar de trem para casa numa noite coberta de neblina, descobriu como solucionar variações de temperatura, umidade e condensação com uma única máquina. Ele patenteou o seu invento com o nome de “aparato pra tratamento de ar”.

O processo de resfriamento que ele utilizava já era conhecido desde a década de 1870 – o esfriamento artificial de dutos, por onde o engenheiro fez o ar circular–, mas foi Carrier que desenvolveu a máquina capaz de fornecer ar fresco em grande volume e de forma contínua. O termo “ar-condicionado” veio depois, com Stuart Cramer, que em 1906 criou o seu próprio aparelho.

A invenção demorou a se popularizar porque, em um primeiro momento, seus inventores ainda não tinham percebido o potencial daquelas máquinas de ar frio. Mas, em 1919, o cinema Riviera, em Chicago, convidava os espectadores para sua “fábrica de congelamento”. Quatro anos depois, uma loja de departamento, em Detroit instalou três condicionadores de ar que atraíram multidões de consumidores. Em Nova York, o cinema Tivoli, aberto desde 1921, ganhou em 1924 um ar-condicionado que o tornou famoso. As pessoas faziam fila na porta, menos para ver os filmes e mais para aproveitar o geladinho do cinema da Oitava Avenida. Eles chegaram aos escritórios ainda naquela década.

Em 1928, a empresa de Carrier já vendia um modelo caseiro, mas a Depressão esfriou os negócios. Somente depois da Segunda Guerra Mundial o ar-condicionado doméstico foi adotado em massa. Arquitetos e engenheiros começaram a prever seu uso, e teatros, bares e escritórios passaram a ser planejados como ambientes fechados. Na Flórida, hotéis foram erguidos com janelas pequenas, pé-direito baixo e condicionadores ligados na potência máxima. Todos os grandes museus e bibliotecas do mundo possuem hoje sistemas de controle de umidade e temperatura.

Pesquisadores americanos acreditam que o invento chegou a influir no adensamento demográfico, ao refrigerar grandes fábricas e escritórios e concentrar trabalhadores nas metrópoles. Morto em 1950, Carrier ainda ajudou o homem a chegar à Lua: dentro de cada um dos trajes espaciais havia um pequeno e eficiente ar-condicionado de sua empresa.

Fonte: http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/grandes_invencoes_o_ar_condicionado.html

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