Nos anos 1960, os jovens de inúmeros países, como França, Inglaterra, Tchecoslováquia, EUA, México, Brasil, entre outros, revoltaramse contra a forma opressiva que as sociedades de classe assumiram.
Lutavam contra a estruturação da sociedade sob o controle de uma indústria avançada, com forte apelo consumista e massificante, que não permitia a contestação, na qual a valorização não recaia sobre os sujeitos, mas sobre a modernização, racionalização e o planejamento burocrático, ou seja, uma sociedade tecnocrática. Ainda, os jovens passaram a lutar contra regimes governamentais autoritários e repressores, como foi o caso da Tchecoslováquia e do Brasil após 1964.
Desta forma, grande parte da energia crítica desta nova geração de descontentes foi canalizada para atividades até então não descobertas pelas formas tradicionais de luta política, manifestando-se de maneiras surpreendentes. Uma das formas dos jovens explicitarem a sua rebeldia foi pelas manifestações culturais.
Contracultura foi o termo criado pela imprensa norte-americana, nos anos 1960, para caracterizar um conjunto de manifestações culturais nos Estados Unidos e Europa, com menor repercussão na América Latina. Assim, contracultura foi a cultura não reconhecida oficialmente, portanto, marginal.
A contracultura norte-americana surgiu dos movimentos de contestação do modo de vida e cultura ocidental. Jovens intelectuais, boêmios, marginalizados como os gays e negros, a partir do final da década de 1950, passaram a criticar e a recusar a forma de organização da sociedade americana e o mito do “sonho americano” relativo à idéia de sucesso.
Nos anos 1960, os jovens da classe média americana passaram a apoiar os movimentos de contestação e a criticar a cultura estadunidense.
Descrentes com o futuro e desencantados com o presente, os jovens de diferentes países tentaram criar um mundo alternativo expresso pela música e pelo movimento underground.
A contestação dos jovens pela música
Texto 2
68, o ano em que os profetas falharam
A primavera também foi a estação da crise na França. Os chamados “acontecimentos de maio” foram não apenas a maior mobilização estudantil da história francesa, como também se ampliaram, gerando o que foi, possivelmente, sua maior greve geral.
Mas quem tomou as grandes decisões em 1968? Os movimentos mais característicos de 1968 idealizaram e se opuseram à liderança, à estruturação e à estratégia. Sua ideologia natural deveria haver sido o anarquismo, mais do que as imagens de Marx, Lenin, Mao e Che preferidas por seus partcipantes mais conscientizados. A arma natural da revolta de 1968 não era o fuzil ou a resolução política, mas o muro pichado, o cartaz improvisado e o microfone.
No entanto, é um erro tratar 1968 como se tivesse sido um ano de revolução fracassada. Foi, na melhor das hipóteses, um lembrete de que os fundamentos da era de ouro econômica do Ocidente estava afundando, assim como o estava aquelas das economias centralmente planejadas do tipo soviéticos, cujas falhas se tornavam cada vez mais evidentes.
Na verdade, foi a erupção da transformação cultural, econômica e social sem procedentes que faz de 1968 uma data significativa na história do século XX.
O ano de 1968 foi marcado por protestos de jovens em várias partes do mundo. O foco irradiador foi a França, onde os estudantes secundaristas e universitários realizaram protestos contra o sistema educacional elitista e autoritário, mas também contra a sociedade industrial moderna que desumaniza. Estes protestos terminaram em graves confrontos com a polícia. Simultaneamente ocorreram revoltas de jovens estudantes no México; na Tchecoslováquia, os intelectuais e artistas deram início a um conflito conhecido como Primavera de Praga, pois eles queriam repensar o socialismo em seu país, mas foram duramente reprimidos pelo exército soviético.
No Brasil, os estudantes, músicos, artistas saíram às ruas para denunciar o regime militar que passou a vigorar no país a partir de 1964.
Em 1968, o governo militar institui o AI-5 (Ato Institucional n.º 5), através do qual concretizou a ditadura ao decretar o fechamento do Congresso, estabeleceu a censura aos meios de comunicação e passou a prender e a julgar arbitrariamente qualquer pessoa que fosse considerada contra o regime, denominados de subversivos.
Neste contexto, intensificou-se a oposição de muitos jovens ao governo militar tanto através do ingresso em movimentos de luta armada, conhecidas como guerrilhas, como pela produção cultural de engajamento político, cujo objetivo era conscientizar os jovens e a população em geral das dificuldades enfrentadas pelo povo brasileiro e o autoritarismo do governo federal. Pode-se afirmar que estes foram alguns dos motivos que levaram à imposição do AI-5 em dezembro de 1968.
Proibido Proibir
A mãe da virgem diz que não
E o anúncio da televisão escrito no portão
E o maestro ergueu o dedo e além da porta
Ao porteiro, sim e eu digo sim
E eu digo não ao não
Eu digo é proibido proibir
É proibido proibir, é proibido proibir…
Me dê um beijo meu amor
Eles estão nos esperando
Os automóveis ardem em chamas
Derrubar as prateleiras, as estantes,
as estátuas, as vidraças, louças, livros sim
E eu digo sim, e eu digo não ao não
E eu digo é proibido proibir
É proibido proibir, é proibido proibir
Entre os grupos de luta armada, destacaram-se a Aliança Nacional Libertadora (ALN), o Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR-8) e a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). A repressão aos integrantes destes grupos era muito intensa. Centenas de pessoas foram presas, torturadas e/ou mortas.
Quanto ao protesto através da produção cultural foram as músicas de protesto que tiveram maior repercussão entre a população.
Destacaram-se compositores como: Geraldo Vandré (1935- ) e Francisco (Chico) Buarque de Holanda (1944- ).
Em 1968, também surgiu o tropicalismo, que foi mal recebido pelos membros do movimento estudantil, os quais se identificavam com a música de protesto, pois acreditavam que os integrantes daquele movimento artístico não eram politizados e, assim, estavam a favor do governo e do capital internacional. O descontentamento dos integrantes do movimento estudantil com este estilo musical foi representado pela crítica ao abandono do violão acústico e sua substituição por instrumentos elétricos realizada pelos tropicalistas.
Os conservadores de direita, por não conseguirem entender o movimento, também se opunham às atitudes provocativas do tropicalismo.
Os representantes do tropicalismo se defenderam das críticas afirmando que eram contra a política do capital internacional no Brasil como também a qualquer forma de autoritarismo, até mesmo daqueles que queriam impor somente uma forma de lutar contra a opressão e a dominação. Os tropicalistas propunham uma mistura de estilos artísticos antigos e modernos, representados, por exemplo, pelas músicas regional, brega, samba, bolero e rock’n’roll.
Entre os representantes de maior destaque do tropicalismo estavam:
Caetano Veloso (1942- ), Gilberto Gil (1942- ), Tom Zé (1936- ) e o grupo Os Mutantes (formado em 1966).
Para alguns jovens, a música tornou-se uma forma de difundir idéias, demonstrar sua insatisfação com a sociedade em que vive e manifestar sua rebeldia.
Fonte: http://www.ahistoria.com.br/a-revolucao-jovem/